- por Mariana Zambon Braga
Em outubro do ano passado, o Estadão publicou uma matéria apresentando a Escola de Princesas. Localizada em Uberlândia, MG (e com uma filial a ser inaugurada em São Paulo, no bairro de Moema), a entidade tem como lema “o sonho de toda menina é tornar-se uma princesa”. O trabalho da escola consiste em ensinar as alunas, de 4 a 15 anos de idade, como se portar no ambiente doméstico, à mesa, nos relacionamentos. Tudo isso num ambiente cheio de glitter, tiaras, objetos cor de rosa e transbordando clichês e estereótipos. Na época, escrevi um texto sobre isso no Medium.
A resposta a esse retrocesso foi bem rápida. Inspiradas pela oficina de "desprincesamento" do Chile, diversas ações que promovem o debate acerca dos papéis de gênero na infância estão surgindo por aqui. Uma dessas iniciativas é o Coletivo Atreva-se.
A psicóloga Giulianna Ruiz, uma das idealizadoras do Atreva-se, nos contou que, assim que soube desta iniciativa do Chile, ela outras mulheres interessadas se reuniram para começar a pensar em ações aqui no Brasil. Esse encontro aconteceu em novembro, na Casa Feminaria, e foi o primeiro passo para definir o nome, as ações e a missão deste projeto.
Segundo a Giulianna, o coletivo "Surgiu por um interesse em mostrar pras meninas - e todas as pessoas que vivem à sua volta - que elas podem ser princesas, mas elas também podem ser mais um monte de coisas!". O lema é: Atreva-se a ser quem você quer ser!
A primeira ação do Atreva-se aconteceu no dia 16 de dezembro de 2016, no Parque do Ibirapuera, com uma mediação de leitura e bate-papo entre os participantes.
Leia abaixo o manifesto do Atreva-se:
NÓS NOS ATREVEMOS. ATREVAM-SE TAMBÉM.
Atreva-se! Para ser quem e o que quiser!
Nós, do Atreva-se! nos juntamos para criar possibilidades para as meninas serem quem e o que quiserem ser.
Existimos e escolhemos transitar na vida e não na fuga dela, entendemos como fuga da vida tudo aquilo que, por imposição, nos desvia de quem somos, seja a maneira como deveríamos nos comportar, a roupa que deveríamos usar, e os sonhos que deveríamos ter, o trabalho que deveríamos exercer, os brinquedos que poderíamos brincar, os personagens que deveríamos gostar, as palavras que poderíamos pronunciar, as lutas que deveríamos lutar, e mais um sem fim de regras e mais regras criadas para que simplesmente não fôssemos o que gostaríamos de ser.
Este movimento se pauta na força do encontro, da troca de saberes, da sororidade, na plena convicção de que, se houver espaço que legitime nossas escolhas e que valide nossas posturas, é possível criarmos um novo paradigma, onde igualdade de gênero não seja um motivo de luta e sim uma conquista.
Talvez assim possamos existir em um mundo onde nos doa aos ouvidos, pensarmos que alguém já viveu sob a tutela da cultura do estupro e que seja um tempo bem longínquo aquele em que tínhamos como ideologia vigente uma lógica machista e violenta.
Que sejamos nós a escolher a nossa beleza, questionar o nosso recato e transitar por tantos os lugares que quisermos.
Nós somos responsáveis pelo que nos move!
Atreva-se a vir com a gente, vamos alargar o mundo para cabermos nele! "
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Mariana Zambon Braga
Responsável pela redação da Rede, é tradutora de inglês, formada em letras pela USP.
Atua nas áreas de: contratos, traduções técnicas, traduções literárias, artigos e monografias. Escritora por vocação e realizadora por necessidade.