- por Mariana Zambon Braga
O filme Estrelas Além do Tempo conta a história das três personagens reais Mary Jackson, Dorothy Vaughan e Katherine Johnson. É sucesso de bilheteria e conseguiu três indicações ao Oscar: melhor atriz coadjuvante para Octavia Spencer, melhor roteiro adaptado e melhor filme. Eu, particularmente, me emocionei bastante ao assistir à trajetória destas mentes brilhantes, que só foram receber o devido crédito anos mais tarde. E eu preciso frisar aqui: se não fosse pelo esforço delas, talvez toda a missão espacial dos EUA naquela época tivesse sido um fracasso.
O cenário enfrentado por elas não poderia ser mais desafiador. Anos 1960. Sul dos Estados Unidos - uma das regiões em que a segregação racial era uma dura realidade. E, ainda por cima, eram mulheres negras, trabalhando na NASA, um ambiente composto quase que majoritariamente por homens brancos.
O que elas conquistaram não foi pouca coisa não. Mary Jackson foi a primeira engenheira negra da NASA. Dorothy Vaughan tornou-se, com muita perseverança, a primeira supervisora negra da National Advisory Committee for Aeronautics (NACA), a agência predecessora da NASA. Katherine Johnson foi uma brilhante matemática, premiada pelo presidente Obama com a Medalha da Liberdade Presidencial, a maior honra que um civil pode receber. Sem contar que o próprio John Glenn, astronauta que fez o primeiro voo orbital dos EUA, só aceitou a missão após Katherine confirmar os cálculos de seu retorno à Terra.
Acho que é justo dizer que elas foram muito importantes para a história, não só dos EUA, como da humanidade. E, como toda boa história, real ou fictícia, este filme me trouxe alguns ensinamentos:
- Persistência e posicionamento são fundamentais. Ao longo da narrativa, Mary, Katherine e Dorothy se encontram em situações na quais poderiam ter recuado ou abaixado a cabeça. Poderiam ter desistido de seus sonhos ou de suas carreiras, pois as condições que se apresentavam eram muito adversas. Mas elas não se submeteram. Não aceitaram o "mundo como ele é". Lutaram pelo direito de manter seus trabalhos, de estudar, ter uma remuneração digna, ou de simplesmente poder usar o banheiro no mesmo andar onde trabalhavam. Graças ao posicionamento e à firmeza das três, elas conseguiram melhorar não só suas próprias condições de trabalho e de vida, mas a de muitas mulheres que trabalhavam com elas.
- Precisamos nos preparar para as inovações tecnológicas e para as novas tendências. Dorothy era líder das computers - matemáticas que faziam os cálculos, manualmente com uma calculadora, muito antes do advento dos computadores. Por causa dos atritos entre os EUA e a União Soviética, a chamada corrida espacial levou a NASA a comprar um daqueles computadores enormes da IBM. Dorothy percebeu, então, que teria que aprender a programar aquilo, ou ela e sua equipe se tornariam obsoletas. Além de aprender a linguagem de programação do IBM, ela também ensinou suas colegas e garantiu que todas pudessem manter seus empregos. Ao invés de temer a tecnologia, devemos compreendê-la e nos adaptar aos novos rumos das nossas profissões e de nossos ofícios.
- Um bom líder enxerga o ser humano. Quando Katherine consegue uma vaga na equipe dos matemáticos responsáveis por mandar o homem para o espaço, ela começa a trabalhar com Al Harrison, um cara exigente, mas que sabia que liderança não tem a ver com mandar. Graças a Al, Katherine não precisou mais andar quilômetros para poder ir ao banheiro, pode participar de reuniões estratégicas e trabalhar mais ativamente, desenvolvendo seu potencial e contribuindo da melhor maneira para a equipe. Se um líder não reconhece que seus colaboradores são humanos, não sabe enxergar suas necessidades de trabalho, então ele é apenas uma pessoa com poder hierárquico.
Estrelas Além do Tempo é um filme inspirador, não no sentido motivacional, porque não tem aquela coisa de "você pode tudo se apenas for otimista e determinada". Nada disso. É inspirador porque mostra o resultado do trabalho árduo e da dedicação destas mulheres em busca de seus sonhos e objetivos profissionais e intelectuais. Mostra que, sem atitudes, sem uma real ação transformadora, nossos projetos dificilmente serão realizados.
Que possamos nos espelhar na coragem dessas cientistas incríveis!
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Mariana Zambon Braga
Responsável pela redação da Rede, é tradutora de inglês, formada em letras pela USP.
Atua nas áreas de: contratos, traduções técnicas, traduções literárias, artigos e monografias. Escritora por vocação e realizadora por necessidade.