– por Fernanda Savino
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Eu lembro exatamente desse dia: era uma segunda-feira, dia 24 novembro de 2014. Eu tinha 32 anos e tinha acabado de retornar de uma viagem de férias. Tinha uma consulta marcada com o Dr. Ginecologista por conta de exames realizados antes de viajar, pois precisava tirar um nódulo que ocupava um espaço “grandinho” no meu seio esquerdo. Pois bem, cheguei no consultório com a minha mãe e esperamos pela nossa vez. Quando o Dr. Ginecologista chamou meu nome, entramos na sua sala e desatamos a conversar sobre a viagem. Eu era a última paciente daquela segunda-feira. No entanto, todo o clima ameno se dissipou no ar quando ele me disse que as notícias não eram tão boas. De repente, as palavras “câncer”, “quimioterapia” e “cirurgia” passaram a fazer parte da nossa conversa.
Foi um baita choque! Parece que o chão foge sob os seus pés e a cabeça não para de pensar em tantas hipóteses. Desatei a chorar, amparada pelas mãozinhas da minha mãe que apertavam a minha para me dar força. Eu, no auge dos meus 32 anos, sem nenhum caso de câncer na família, de repente, me vi de frente com aquele turbilhão de informações que eu nem sabia da onde vinham. A única coisa que eu conseguia dizer era “vai ficar tudo bem”.
E foi nisso que eu acreditei (e me agarrei com todas as forças) durante o meu tratamento. Fui pulando de uma consulta para a outra, um exame atrás de outro, até iniciar a quimioterapia no dia 18 de dezembro. Era uma mistura de ansiedade e medo, mas eu não tinha outra opção a não ser ser forte e enfrentar a coisa toda de frente.
Foi uma fase muito difícil para mim e acredito que também tenha sido para todos que me cercavam. Foram oito ciclos de quimioterapia (quatro “vermelhas” e quatro “brancas”) para diminuir o tumor. Depois de torná-lo do tamanho de um feijão, passei por uma cirurgia menos invasiva e, por fim, fiz trinta e três sessões de radioterapia, além de precisar tomar um “remedinho” na veia a cada 21 dias até março deste ano. O tratamento é extremamente agressivo e traz um monte de questões físicas e psicológicas com as quais você precisa aprender (ou acaba aprendendo “na marra”) a lidar. Mexe com a auto-estima, com os familiares, os amigos, o trabalho e mexe muito com os seus limites. No meu caso, me dei conta de que, de fato, não tenho controle sobre nada nessa vida e que é difícil pra caramba lidar com limites. Você quer fazer uma porção de coisas, mas não consegue porque o corpo não vai aguentar.
Muitas vezes eu não reconhecia a pessoa que aparecia no espelho: primeiro mais magra e careca, depois com o rosto mais inchado, sem as sobrancelhas e os cílios. Sou humana e isso implica em muitas escolhas e muitos sentimentos envolvidos. Diante de uma situação dessa, eu aprendi a lidar com o que eu queria fazer e não com o que eu tinha que fazer. Havia dias em que eu acordava sorrindo para tudo e para todos e não deixava que o tratamento acabasse comigo. Outros, porém, eu não queria levantar da cama e eu, simplesmente, não levantava. Havia dias que eu queria receber visitas, queria conversar com as pessoas, queria escrever… em outros, não queria falar com ninguém, queria apenas que o dia passasse, queria que o tratamento acabasse logo. É engraçado como com o decorrer da vida nós nos apegamos tanto ao “tem que ser assim” ou “tem que ser assado”. Com toda essa experiência, eu aprendi que nada “tem que ser”, mas que precisamos aprender a nos respeitar, acima de qualquer coisa.
Passados quase dois anos do dia em que recebi o diagnóstico mais assustador da minha vida, vejo que muita coisa mudou de lá pra cá. Ainda hoje sinto alguns dos efeitos colaterais, porém, já não me importo mais tanto com isso. O que importa é que passou e eu estou viva! A experiência toda com o câncer me trouxe (e ainda traz) inúmeros aprendizados, mas, ainda assim, eu jamais desejarei que alguém precise passar por isso para enxergar a vida com outros olhos. Hoje em dia eu aprendi a olhar para mim com mais amor; a cuidar mais de mim; a colocar a minha saúde em primeiro lugar, sem ficar adiando consultas, exames e/ou esquecendo de que eles são necessários. Percebi que o bem mais precioso que eu tenho é a vida e que é necessário aprender a viver um dia de cada vez, com mais amor, serenidade e alegria. Hoje eu dou muito mais valor às pequenas coisas, aos pequenos gestos, ao amor que as pessoas compartilham comigo. Dou valor aos encontros, aos reencontros e até mesmo aos desencontros. E, acima de tudo, dou muito valor à minha saúde e à minha vida!
Fernanda Savino
Formada em Letras pela USP e em Direito pelo Mackenzie. Advogada de um grande escritório em São Paulo, atua nas áreas de direito bancário, empresarial, societário e mercado de capitais. Apesar de mudar completamente de profissão, jamais abandona sua paixão pela literatura.